Pesquisas científicas que transformam a sociedade
27 de outubro de 2017Texto Tuanny de Paula*
Estamos em plena Semana da Ciência e Tecnologia, comemorada em todo o Brasil. Com a proposta de facilitar o entendimento destas duas áreas e aproximá-las cada vez mais, diversas universidades do país aproveitaram a ocasião para promover o Dia C da Ciência. A Unochapecó se juntou ao projeto e preparou ações voltadas à importância da pesquisa e como ela auxilia no desenvolvimento da região. Em função do clima chuvoso desta semana, o evento foi agendado para o dia 1º de novembro.
A programação acontece das 9h às 16h30, na Praça Coronel Bertaso. Na oportunidade, estarão apresentando os seus projetos o curso de Ciências Biológicas e o Mestrado em Ciências Ambientais. A iniciativa do evento é do Colégio de Pró-Reitores de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação das Instituições Federais de Ensino, e do Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop). A entidade envolve diversas instituições de ensino superior e pesquisa. O movimento busca conscientizar a população da importância de pesquisas científicas e como elas influenciam no desenvolvimento da sociedade.
Para a vice-reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unochapecó, professora Silvana Wildner Muraro, as Universidades e Institutos Tecnológicos são responsáveis por 90% da pesquisa produzida no país. “O conhecimento produzido nesses espaços normalmente são divulgados em formatos de difícil entendimento pela comunidade. Por isso, nesse Dia C da Ciência, vamos proporcionar uma aproximação dos estudos feitos pela Unochapecó com a comunidade”.
É através da pesquisa que se faz ciência e o Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil enumerou as oito principais áreas de estudos no país: ciências agrárias, ciências biológicas, ciências da saúde, ciências exatas e da terra, engenharias, ciências humanas, ciências sociais aplicadas e linguística, letras e artes. Silvana afirma que a pesquisa é a base da transformação do conhecimento e proporciona aos alunos um profundo aperfeiçoamento na sua formação. A Unochapecó conta com 258 projetos em andamento.
“Ninguém nasce pesquisador, mas sim curioso, e o papel da Universidade, desde a graduação, é desenvolver a curiosidade do futuro cientista. A Universidade que coloca seus alunos nesse caminho provoca grandes e positivas transformações na sociedade e na vida das pessoas”, complementa.
O Brasil e a ciência
No início deste ano, o governo brasileiro anunciou um corte de 44% do investimento em pesquisas científicas, medida que é considerada pelos pesquisadores um retrocesso nos avanços da ciência e inovação do país. Segundo dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para um milhão de brasileiros, 700 são cientistas. Comparado a outros países, como Alemanha e Estados Unidos, esse número está abaixo do esperado. Nesses países, os índices chegam a 6.000 cientistas para um milhão de pessoas. Os investimentos na área ocorrem através do Produto Interno Bruto (PIB) e, enquanto outros países investem 3% a 4% do seu PIB, o Brasil investe menos de 1,2%.
Mulheres na ciência
Única mulher a ser homenageada duas vezes com um Nobel, prêmio concedido a pesquisadores, escritores e filantropos que se destacaram por suas contribuições para o avanço da humanidade, a polonesa Marie Curie foi pioneira da ciência no mundo. As pesquisas realizadas pela cientista levaram a descoberta de dois elementos químicos, o polônio, que leva este nome em homenagem a sua terra natal, e também o rádio.
Mas além das dificuldades enfrentadas no laboratório, a cientista também precisou lidar com outro tipo de contaminação. O machismo e o preconceito. E ela não está sozinha. Da pioneira da ciência até os dias atuais, as mulheres tiveram que lutar por seu espaço. Um estudo feito pelo Gender in the Global Research Landscape, publicado pela Editora Elsevier, revelou novos números sobre a participação feminina na ciência.
De acordo com os dados, dos 12 países pesquisados, Brasil e Portugal possuem os maiores percentuais de participação feminina na produção científica, cerca de 49%. A análise por disciplinas aponta que a pesquisa científica nas áreas ligadas à saúde, como medicina, bioquímica, genética, odontologia e enfermagem é maior entre as mulheres. Quando se fala em publicações de medicina, um em cada quatro estudos publicados na área por pesquisadores brasileiros tem uma cientista mulher como principal autora. Os homens são maioria nas ciências exatas, como as engenharias, computação, física e ciências econômicas.
Amor pela pesquisa
A pesquisadora Mariana Mendes, graduada em Enfermagem, acredita, no entanto, que os espaços da mulher na pesquisa científica estão mudando. Ela se inseriu na área ainda nos primeiros anos da graduação, participando como bolsista voluntária no projeto de pesquisa ‘Anamnese e exame físico: o conhecimento dos primeiros enfermeiros inseridos na atenção básica’. A partir dessa experiência, desenvolveu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre o assunto. “As Instituições estão percebendo os potenciais femininos para a pesquisa e proporcionando novas oportunidades. O acesso a esses estudos pode iniciar na graduação e ser levado adiante nas especializações, onde as mulheres estão ocupando espaços que, em décadas anteriores, eram ocupados majoritariamente por homens”, avalia.
Em 2016, após terminar a graduação, Mariana ingressou no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, na Unochapecó. Com uma proposta de pesquisa ligada ao trabalho dos profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF), a mestranda se debruça sobre as perspectivas da carga de trabalho dos profissionais deste grupo.
Para a pesquisadora, o ensino, a pesquisa e a extensão são os tripés de uma Universidade para a formação acadêmica e profissional. “A pesquisa proporciona olhares diferentes sobre os mesmos objetos. O estudante que pesquisa possui um diferencial, porque o estudo ensina disciplina, reflexão, leitura e cria novas relações com a comunidade”.
Mariana ainda conta que em suas pesquisas, a orientação e coordenação sempre foram realizadas por mulheres. “Você olha para aquelas mulheres inteligentes e pensa que, no futuro, quer se tornar assim e isso vai aos poucos inserindo uma nova cultura, a da mulher como protagonista em diversos cenários da sociedade”, finaliza.
*Estagiária, sob orientação de Greici Audibert.