Rota Esquecida: Início das obras… para quando?

Rota Esquecida: Início das obras… para quando?

31 de agosto de 2020 Off Por Ricardo Souza



  • Há quase uma década, um pequeno trecho de aproximadamente 65km entre os municípios de São Miguel do Oeste e Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, aguardam pelas obras de ampliação de capacidade e restauração da BR-163. Na reportagem especial a seguir, você acompanha uma retrospectiva desse assunto e a importância desta obra para quem utiliza essa via para sua mobilidade.
    “É pela estrada que passa o progresso da nação”. Não há como negar que embora este seja, um jargão popular, o modal rodoviário Brasileiro possui uma importância imensurável para o desenvolvimento da economia além do sustento e manutenção de vidas. Cerca de 60% de todas as cargas movimentadas no território brasileiro, possuem como principal sistema logístico, o transporte rodoviário. São mais de 1.700.000 quilômetros de vias. ‘É muita estrada’, e muitas vidas cruzando por esses caminhos.
    Mas, o recorte dessa reportagem trata apenas de um pequeno trecho de toda essa imensidão de rodovias pelo Brasil afora. A BR-163 é uma rodovia longitudinal, que possui 3579 km em sua extensão total e atravessa o país, do Rio Grande do Sul ao Pará. Ainda no início dessa passagem, entre os municípios catarinenses de São Miguel do Oeste e Dionísio Cerqueira, um trecho de aproximadamente 65 quilômetros, tem se consolidado como corredor rodoviário do Mercosul, mas também, tornou-se uma lamentável ‘dor de cabeça’ para os municípios que contam com essa rodovia cruzando seus limites. Isso porque, há quase uma década, esse pequeno trecho tem virado motivo de verdadeiros ‘capítulos de novela’ nas chamadas obras de ampliação de capacidade e restauração da BR-163.

    EM OBRAS…

    Diante de um cenário de diversas reivindicações em busca de melhorias para o desenvolvimento regional, no ano de 2013, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) firmou contrato com a empresa vencedora da licitação, para dar início às obras desse trecho, orçada em R$210 milhões e o prazo de conclusão era para maio de 2015. Contudo, as atividades foram interrompidas pela empresa responsável, e desde então, quem trafega por esse trecho diariamente, lida com constantes situações que colocam em risco a vida de pedestres, motoristas e moradores ao entorno destes locais.

    Conforme levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), apresentado no mês de junho de 2018 pouco mais de 40% da obra foi executada, sendo apenas 35% das obras de terraplenagem e pavimentação concluídas e, com a paralisação, veio a deterioração do trabalho já realizado, acarretando ainda mais prejuízos à segurança e à trafegabilidade para quem utiliza dessa rodovia.
    Hoje, o cenário é de pós-guerra e abandono: falta de sinalização vertical e horizontal, grandes paredes rochosas explodidas para a terceira faixa abandonadas e incompletas, asfalto deteriorado com sequências de buracos e ‘calombos’, vegetação adentrando a rodovia, trechos de futuros desvios inacabados, elevações e projeto de viadutos incompletos. Esta, é a realidade que tem se tornado motivo de medo e insegurança para os que são obrigados a transitar por essa via diariamente.

    Em 2019 após várias reivindicações incansáveis pedindo a retomada das obras e nada resolvido, autoridades locais, regionais, estaduais e a população encamparam um ato de protesto entre os trevos de acesso a São Miguel do Oeste e São José do Cedro, cerca 4 mil pessoas participaram da manifestação. Durante o protesto, os participantes soltaram balões representando as mortes na rodovia ao longo dos últimos sete anos e manifestaram sua indignação e sentimento de descaso com a região, que hoje é reconhecida como celeiro do agronegócio de Santa Catarina.

    VIDAS CONTABILIZADAS

    Segundo dados informados pelo site do jornal Diário do Iguaçu, em uma reportagem sobre as rodovias mais perigosas da região Oeste, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apontou que foram registrados 611 acidentes na região, com 48 mortes. A rodovia que mais registrou acidentes foi a BR-282, com 428 acidentes. Na sequência está a BR-163, com 140 acidentes, sendo que somente no trecho entre a BR-163 de São Miguel do Oeste e Dionísio Cerqueira ocorreram, no ano passado, 40 acidentes com vítimas. Todos esses dados, só tornam ainda mais evidente a coparticipação da atual situação de infraestrutura rodoviária no registro de acidentes desta região.

    Embora, ainda que em condições de péssima trafegabilidade, no estado de Santa Catarina, a rodovia ganha o status de maior escoador de produção do Brasil. Nossa reportagem teve acesso ao anteprojeto de engenharia visando a adequação para a aplicação de capacidade e restauração da BR-163, segmento compreendido entre os Km 78,62=PP e Km 122,6, com aproximadamente 400 páginas. No próprio estudo, há a observação das condições inviáveis de trafegabilidade e depoimentos da Polícia Rodoviária, que reforçam a necessidade de melhorias. “A polícia relatou algumas deficiências e características particulares da rodovia que geram insegurança aos usuários, as quais puderam ser ratificadas durante a inspeção, tais como: elevado volume de veículos de carga, acostamento estreitos, presença de rampas fortes, travessias dentro de perímetros urbanos, árvores muito próximas à pista e acessos secundário deficientes”, aponta o relatório do Dnit.
    CONDIÇÕES INTRAFEGÁVEIS

    O considerável fluxo de veículos pequenos e de carga, tem tornado esse trecho motivo de insegurança para os milhares de caminhoneiros que utilizam dessa rota. Há 23 anos atuando como caminhoneiro, Valmeri Balena, de Toledo, no estado do Paraná, conversou com nossa reportagem em um ponto de parada para motoristas, no município de São Miguel do Oeste. Pela primeira vez, trouxe a esposa e a filha para acompanhá-lo neste trajeto, mas confessa que, com muito medo e insegurança. “Esse trecho de rodovia está em péssimas condições, não tem como rodar, é muito buraco, trepidação, mal sinalizada. Já passei por ela em todos os horários, e a noite, tem trechos com neblina o que torna ela ainda mais perigosa porque temos que cuidar não só do nosso, mas principalmente dos veículos menores”, relata.

    Da mesma forma, Adalto Julion, que também reside no Paraná e perpassa por essa rodovia, reforça as péssimas condições de trafegabilidade, que além de por vidas em risco, também acarretam em mais despesas e prejuízos financeiros para os proprietários de caminhões. “Quando a infraestrutura é ruim, como nesse trecho, o desgaste do caminhão também é grande. Já estive por aqui, diversos problemas com mecânica, sem contar os desgastes de pneus. Isso acaba encarecendo o frete também”, ressalta o caminhoneiro, que já perdeu inclusive amigos em acidentes por conta de situações precárias em rodovias.
    UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

    No dia 6 de julho de 2020 o Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, recebeu de uma comitiva de lideranças da região Extremo Oeste de Santa Catarina, o pedido de melhorias na rodovia BR-163.

    Durante a conversa, o ministro Tarcísio Gomes de Freitas afirmou estar ciente do problema, e que ainda no mês de agosto as obras no trecho de São José no Cedro serão iniciadas com a reconstrução do elevado, base asfáltica e obras acessórias. A assinatura do novo contrato ocorreu pela empresa TORC, de Minas Gerais. Neste projeto a rodovia receberá 48 quilômetros de concreto, 20 de vias paralelas e 20 de terceiras faixas, abrangendo de Guaraciaba até Dionísio Cerqueira. O projeto também contempla a finalização do viaduto em São José do Cedro e construção de outro em Guaraciaba. Uma luz no fim do túnel para os mais de 170 mil habitantes dessa região, que convivem a quase uma década, com a esperança dessas melhorias e adequações, e aos milhares de caminhoneiros e motoristas que utilizam dessa via para sua mobilidade cotidiana.