Boto-cinza é encontrado morto com calcinha presa a nadadeiras
21 de maio de 2021Suspeita é que animal tenha se enroscado no tecido quando era mais jovem. Equipe acredita que roupa tenha influenciado no quadro geral de debilidade do mamífero.
Um boto-cinza foi encontrado morto com uma calcinha presa às nadadeiras peitorais em Itapoá, no Norte catarinense. O resgate do animal foi feito pelo Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP/BS Univille) no último domingo (16), mas o fato só foi divulgado pela entidade nesta sexta-feira (21).
Amostras foram coletadas para a realização de análises complementares para confirmar a causa da morte.
Contudo, a equipe de veterinários acredita que o tecido preso tenha influenciado no quadro clínico geral de debilidade crônica do animal, comprometendo a natação, dificultando a pesca e diversos outros hábitos realizados pelo boto.
De acordo o projeto, o boto-cinza, ou Sotalia guianensis, encontrado morto na praia do Pontal se tratava de uma fêmea juvenil. Ela tinha aproximadamente 1,4 metro de comprimento e pesava 32,2 quilos. A calcinha, segundo os pesquisadores, estava presa “de forma profunda”, a nível cutâneo e até ósseo.
Segundo a médica-veterinária Giulia Gaglianone, a suspeita é que o boto tenha se enroscado no tecido quando era mais jovem.
“O tecido foi cortando a pele de tal forma que a pele cresceu sobre a tira de pano. Quando as bordas da pele se tocaram, iniciaram o processo de cicatrização, mas a presença do pano manteve as lesões fistuladas, ou seja, abertas”, informou a pesquisadora.
Além da lesão causada pelo tecido, o animal apresentava sinais de debilidade crônica como magreza, pneumonia severa e grande quantidade de parasitas em parte do ouvido e nos pulmões.
O boto apresentava ainda marcas de emalhe de rede de pesca ao redor do rosto e do orifício respiratório.
Descarte incorreto de lixo
Com a situação do boto, o Projeto de Monitoramento fez um alerta sobre o descarte incorreto de lixo. Segundo os pesquisadores, o processo de decomposição de tecidos é lento. No caso de tecidos naturais, como o algodão, o linho e a seda, ele pode durar meses. Mas quando se trata de tecidos sintéticos, como o poliéster, o processo pode chegar a centenas de anos.
“Nos oceanos, os tecidos agem como “redes de pesca”, capturando incidentalmente, emalhando e matando diversas espécies marinhas”, informou o projeto.
Com informações G1 SC