Calote de incorporadora chinesa ameaça exportações brasileiras
21 de setembro de 2021Temores levam em conta possível desaceleração da economia do principal parceiro comercial do Brasil.
Os temores a respeito do possível calote de R$ 1,6 trilhão (US$ 300 bilhões) da Evergrande, segunda maior incorporadora da China, preocupa a economia de todo o mundo no início desta semana e pode afetar diretamente as exportações brasileiras, a depender do auxílio a ser dado para salvar a empresa.
De acordo com Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, o efeito da crise seria ocasionado pela possível desaceleração da economia chinesa. Para ele, a situação com a principal parceira comercial do Brasil seria “bastante ruim”, principalmente para o setor de matérias-primas.
“O mercado comercial, principalmente o de commodities [matérias-primas], como minério de ferro, siderurgia e proteína animal, tem um risco que está sendo monitorado”, diz Chinchila ao avaliar que pode haver ainda um “efeito cascata” no mercado global com a confirmação de um calote a empresa chinesa.
De acordo com dados do Ministério da Economia compilados pela FGV (Fundação Getulio Vargas), somente neste ano a China comprou 63% das vendas externas brasileiras de minério de ferro, 69% da soja em grão e 49% do petróleo. O país asiático também registrou elevada participação nas compras de carne bovina (57%) e celulose (42%),
“Os ventos favoráveis da balança comercial estão estritamente associados ao desempenho no mercado chinês. Supondo que este continue favorável, os possíveis riscos seriam: aumento das importações com a retomada de um crescimento sustentado do país”, avalia o último Icomex (Indicador Mensal de Comércio Exterior), com dados do mês de agosto.
“Um terço do PIB chinês tem origem na construção civil. Se quebrar uma grande construtora na China, a demanda por minério de ferro e outra commodities tende a cair bastante”, analisa Murillo Torelli, professor de contabilidade financeira e tributária da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Aversão aos emergentes
Outro efeito negativo ocasionado pelo possível calote da incorporadora asiática seria uma aversão ao risco do mundo em relação a outros países emergentes, como o Brasil, e apostarem na busca por mais segurança.
“Com a quebra de uma empesa muito grande, todos ficam com um pouco de meia racionalidade dentro do mercado em busca por mais segurança, e os países emergentes serão considerados como investimentos de risco”, afirma Torelli ao ver uma “tempestade perfeita” para a economia nacional.
Se a operação for efetiva, o professor ressalta que a menor injeção de dinheiro em território nacional tende a derrubar a Bolsa de Valores e a concessão de crédito no Brasil. “O investidor estrangeiro vai tirar o dinheiro daqui com medo do risco e também não empresta dinheiro. Sem crédito, as empresas não crescem e nem se desenvolvem”, completa ele.
Mercado financeiro
Os sinais de que a incorporadora enfrenta dificuldades financeiras surgiram em agosto do ano passado e aumentaram com o anunciou feito aos credores de que ela não pagaria os juros das dívidas com vencimento nesta semana. Foi suficiente para o colapso dos mercados mundiais.
Nesta segunda-feira (20), o temor com o eventual calote da incorporadora fez o Ibovespa, principal índice acionário do Brasil, recuar 2,33% e atingir o pior nível em quase 10 meses. O dólar, por sua vez, saltou 0,78% e fechou o dia cotado a R$ 5,329.
As principais perdas do dia foram justamente ocasionadas pelas empresas relacionadas com matérias-primas, como Vale (-3,3%) e Petrobras (-1,12%), produtoras dos produtos mais exportados pelo Brasil. “O Brasil sofre muito, já que duas das principais ações do Ibovespa são diretamente afetadas pelas commodities”, avalia Filipe Fradinho, analista da Clear Corretora.
Com informações R7