Tragédia aérea com voo da Chapecoense completa cinco anos
29 de novembro de 2021Há cinco anos uma tragédia chocou o futebol mundial. Na madrugada de 29 de novembro de 2016, o avião da empresa Lamia, que levava a delegação da Chapecoense para a Colômbia, caiu, matando 71 pessoas e deixando seis sobreviventes. O time catarinense se dirigia ao país vizinho para disputar a partida de ida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. O avião decolou de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, com destino a Medellín, na Colômbia, e, pouco antes de pousar no Aeroporto José María Córdova, acabou caindo por causa da falta de combustível, conforme provou a investigação. Funcionários aeroportuários e de aviação civil e da Lamia foram apontados como culpados por graves falhas técnicas.
A viagem começou na tarde do dia 28 de novembro no aeroporto de Guarulhos, São Paulo. O voo da companhia aérea Boa até a cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, durou cerca de três horas. O trajeto final foi em um voo fretado da Lamia, também boliviana. A chegada ao aeroporto José Maria Córdova estava prevista para cerca de 22h, horário colombiano. A poucos minutos da aterrissagem, o avião se chocou com o monte Cerro El Gordo, de 2.600 metros de altitude. A informação sobre a queda do avião chegou nas primeiras horas da madrugada do dia 29 de novembro de 2016.
O acidente provocou o cancelamento da decisão e, em um gesto nobre, o Atlético Nacional enviou uma carta para a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), no dia seguinte à tragédia, pedindo que fosse “entregue o título da Copa Sul-Americana à Chapecoense como laurel honorífico à sua grande perda e homenagem póstuma às vítimas do acidente fatal que deixou nosso esporte de luto”. O pedido foi avaliado pelo conselho da Conmebol, que decidiu declarar a equipe catarinense campeã com “todas as prerrogativas esportivas e econômicas que isso envolve”. A Chapecoense acabou ganhando uma premiação de 4,8 milhões de dólares (R$ 16,6 milhões na época). Além disso, se classificou automaticamente para a fase de grupos da Libertadores de 2017. O Atlético Nacional também foi lembrado pela Conmebol. A equipe colombiana recebeu o prêmio “Centenário Conmebol ao Fair Play” e a quantia de 1 milhão de dólares (R$ 3,5 milhões).
Cinco dias depois da tragédia, em um sábado chuvoso, ocorreu o velório coletivo de 50 das 71 vítimas na Arena Condá, em Chapecó, que foi marcado por homenagens. Após a cerimônia, que durou cerca de duas horas, permaneceram 16 corpos em Chapecó para serem velados. O evento contou com a presença de várias personalidades, entre elas o então presidente da República, Michel Temer, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, o técnico da seleção brasileira, Tite, e os jogadores Seedorf e Puyol.
Os caixões com as vítimas chegaram à cidade às 10h30min, com cerimônia com salva de três tiros, e foram levados por caminhões até o estádio, em um percurso de cerca de 10 quilômetros. O público nas arquibancadas da Arena Condá aplaudia, um a um, cada caixão carregado por militares na chegada para o velório. Na área coberta montada sobre o gramado, reservada aos familiares e pessoas próximas, foram depositados os caixões. Às 13h28min, a cerimônia começou com a execução dos hinos brasileiro e da Chapecoense pela banda da Polícia Militar.
Depois, às 13h38min, falou na Arena Condá o presidente em exercício da Chapecoense, Ivan Tozzo. Durante a cerimônia, o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, usou a camiseta do Atlético Nacional e agradeceu as homenagens e o apoio das autoridades e da população da Colômbia.
Crianças levaram para o campo as bandeiras do Brasil, da Colômbia, de Santa Catarina, de Chapecó e da Chapecoense. O apresentador Cid Moreira leu uma passagem bíblica, seguido pelo bispo da arquidiocese de Chapecó, Dom Odellir José Magri, que leu uma mensagem do Papa Francisco. Balões foram soltos a cada nome de vítima que era pronunciado. Carlinhos, o indiozinho símbolo da Chape, entrou em campo com os pais.
No ato final da cerimônia, os dirigentes do time entregaram uma placa ao técnico do Atlético Nacional e ao embaixador da Colômbia no Brasil. O presidente Michel Temer deixou o estádio Condá sem discursar, enquanto a torcida gritava “Vamo, Vamo, Chape”, grito comum durante os jogos. Desde então, em todos os jogos da Chapecoense, os torcedores acendem as lanternas de seus celulares e aplaudem quando o relógio marca 71 minutos, em referência ao número de mortos no acidente.
Convite
Uma semana depois do acidente, o presidente da Chapecoense, que nem sequer havia assumido o cargo de forma oficial, Plínio David de Nês, o Maninho, recebeu um e-mail. Ele leu a mensagem e ficou boquiaberto, e mostrou o conteúdo para o prefeito Luciano Buligon, que o acompanhava em um evento na cidade. “É verdade?”, questionou Buligon ao ver o escudo do Barcelona. Tratava-se de uma manifestação de solidariedade do clube catalão e, também, de um convite para disputar o tradicional Troféu Joan Gamper, que marca a apresentação do elenco blaugrana à sua torcida no Camp Nou, em Barcelona, a cada começo de temporada. “Essa foi a maior surpresa que eu tive. O gesto do Barcelona demonstrou a grandeza do clube.
Poderiam escolher qualquer equipe do mundo para jogar lá. As pessoas não têm noção do nosso sentimento quando recebemos aquela carta com o escudo do Barcelona nos convidando para o amistoso. Era um momento de muita dor e incerteza. Pensávamos que a história da Chapecoense tinha chegado ao fim”, conta Buligon. Para ele, tanto o Barça quanto o Atlético Nacional acabaram sendo determinantes para o renascimento do clube catarinense. “O convite do Barcelona veio como um bálsamo para nossa ferida. Essa honra que nos foi concedida e a atitude do Atlético Nacional (que abriu mão do título da Copa Sul-Americana) foram os dois maiores incentivos que tivemos para acreditar na reconstrução da Chape.”
Além de promover a partida que foi disputada em agosto de 2017, o Barcelona doou ainda 250 mil euros (na época em torno de R$ 900 mil) para ajudar na remontagem do elenco da Chapecoense.
Embora tenha recebido diversas homenagens e convites para amistosos ao redor do mundo, a quantia doada pelo Barcelona foi o único apoio financeiro que a Chape ganhou de outras equipes, além da premiação de R$ 6,9 milhões pelo título da Sul-Americana. “Acima do dinheiro, ficamos muito lisonjeados por receber ajuda de uma instituição gigantesca como o Barcelona. Eles foram os primeiros a nos estender a mão e a confortar nossos corações”, afirmou Maninho.
Mas para poder estrear em campos europeus, a Chapecoense ainda teve de convencer a CBF a adiar uma partida no Brasileirão daquele ano. Além do Barcelona, o Verdão do Oeste ainda disputou amistosos contra Lyon e Roma e depois foi ao Japão para encarar o Urawa Red Diamonds, pela Copa Suruga. O desempenho nos gramados foi fraco, com quatro derrotas. No Camp Nou, foram várias homenagens antes, durante e depois da partida com o Barcelona, que goleou por 5 a 0. Mas o grande destaque foi a volta aos campos do jogador Alan Ruschel, um dos sobreviventes da tragédia. Além dele, estavam junto com a delegação Neto e Jakson Follmann. “Tive o privilégio de uma segunda chance. Foi um sonho poder voltar em um jogo tão importante como esse contra o Barcelona”, disse Ruschel. Depois, a Chapecoense perdeu para o Lyon por 2 a 1, levou 4 a 1 da Roma e foi batida pelo Urawa Red Diamonds por 1 a 0. Mas os resultados foram considerados de menos, pois o que importou foi o apoio dos diversos clubes na reestruturação e autoestima da Chapecoense.
Dentro de campo, na época, o time disputava a Série A do Brasileirão e os demais clubes da elite lançaram a ideia de que a Chapecoense ficasse imune ao rebaixamento por três temporadas, de 2017 a 2019, para poder reformular o elenco, depois da perda de quase todos os jogadores. O projeto, no entanto, foi descartado pelos catarinenses, que consideraram a situação constrangedora. “As manifestações ocorreram em um período emocional e as pessoas, os clubes, tiveram esse gesto de solidariedade. Mas a gente entende que isso seria muito constrangedor para nós, para a CBF e para as federações, pois abriria um precedente, o que nos deixa desconfortáveis. Entendemos que a gente tem que disputar a permanência dentro de campo”, disse na época o então presidente da Chapecoense, Plínio David de Nês Filho, o Maninho, que havia assumido o cargo duas semanas após o acidente no lugar de Sandro Pallaoro, morto na tragédia. Ex-presidente do Conselho Deliberativo do clube, Plínio renunciou em 2019.
Programação de domingo
A Chapecoense foi bem nos dois primeiros anos na elite. Em 2017, terminou o Brasileirão em oitavo lugar, na temporada seguinte ficou na 14ª posição, mas em 2019 terminou no penúltimo lugar, sendo rebaixado. “A Série B não é o fim do mundo. Se o preço for a gente cair para reconstruir, colocar as coisas no lugar e dar mais importância para as coisas pequenas, abrir o clube para o torcedor… Que a gente volte a se abraçar e coloque a Chapecoense no lugar que ela merece. Tem que voltar a se organizar”, disse o então vice-presidente Mano Dal Piva. Em 2020, o Verdão do Oeste disputou a Série B, foi campeão, retornou à elite este ano, mas acabou novamente rebaixado, por antecipação, para a Segundona de 2022.
Os sobreviventes
Os seis sobreviventes daquela madrugada ainda são assombrados pela tragédia, mas retomaram suas vidas de uma forma ou outra.
O lateral Alan Ruschel, natural de Taquara, conseguiu voltar aos gramados já em 2017, atuando pela Chapecoense, casou-se com a namorada Marina, teve um filho, e encerrou sua passagem pelo clube em 2020. Foi então contratado pelo Cruzeiro, assinando contrato até o final de 2022, mas neste ano foi emprestado para o América-MG. Ruschel está com 32 anos.
O goleiro gaúcho Jakson Follmann está com 29 anos. Perdeu a perna direita no acidente, casou-se com sua namorada Andressa e deixou este ano o cargo de embaixador do clube de Chapecó. Ele manteve neste período uma carreira paralela, na música. Em 2019, participou e venceu um reality show de televisão. É dono de uma clínica que vende próteses para amputados em Chapecó.
Hélio Hermito Zampier Neto, o zagueiro Neto, se aposentou em dezembro de 2019, aos 34 anos, por conta das dores que sentia ao jogar futebol. Assumiu o cargo de superintendente de futebol da Chapecoense e terá um filme sobre a sua vida. O longa-metragem “O Último Sobrevivente” terá direção do cineasta colombiano Gustavo Nieto Roa e será uma ficção, baseada nos fatos reais do acidente aéreo.
O jornalista Rafael Henzel, após o acidente, seguiu trabalhando como locutor da Rádio Oeste Capital FM, em Chapecó. Em 2017, publicou o livro “Viva Como se Estivesse de Partida”. Rafael morreu em 2019, aos 45 anos, devido a uma parada cardiorrespiratória, enquanto disputava uma partida de futebol.
A comissária de bordo Ximena Suarez dizia que queria voltar a voar, e o fez, trabalhando na companhia Amaszonas, mas ficou menos de dois meses e saiu por descontentamento com a empresa. Ximena também lançou o livro “Voltar aos Céus”, contando sua experiência na tragédia da Chapecoense.
Já o técnico de voo Erwim Tumiri voltou a trabalhar como piloto particular na Bolívia. Em março deste ano sobreviveu a uma nova tragédia. Ele estava em um ônibus que capotou em uma rodovia de Ivirgarzama, na Bolívia. No acidente, morreram 21 pessoas, Erwin sofreu apenas ferimentos leves.
Ainda fora das quatro linhas, segue a questão das indenizações aos familiares das vítimas. Há poucas semanas, no final de outubro, a Chapecoense foi condenada pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 14 milhões de indenização à família do zagueiro Willian Thiego, morto no acidente. Ele deixou mulher e duas filhas. Ainda cabe recurso no Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília. O clube catarinense ainda não se manifestou.
Vítimas do acidentes
Elenco da Chapecoense:
Danilo (goleiro)
Gimenez (lateral)
Bruno Rangel (atacante)
Marcelo (zagueiro)
Lucas Gomes (atacante)
Sergio Manoel (meio-campista)
Filipe Machado (zagueiro)
Matheus Biteco (meio-campista)
Cleber Santana (meio-campista)
William Thiego (zagueiro)
Tiaguinho (meio-campista)
Josimar (meio-campista)
Dener Assunção (lateral)
Gil (meio-campista)
Ananias (atacante)
Kempes (atacante)
Arthur Maia (meio-campista)
Mateus Caramelo (lateral)
Aílton Canela (atacante)
Comissão técnica:
Caio Júnior (técnico)
Eduardo de Castro Filho (auxiliar técnico)
Luiz Grohs (analista de desempenho)
Anderson Paixão (preparador físico)
Anderson Martins (preparador de goleiros)
Dr. Marcio Koury (médico)
Rafael Gobbato (fisioterapeuta)
Cocada (roupeiro)
Sergio de Jesus (massagista)
Adriano (membro da comissão)
Cleberson Silva (membro da comissão)
Luiz César Martins Cunha (Cesinha) (comissão técnica)
Gilberto Pace Thomas (assessor de imprensa)
Diretoria:
Sandro Pallaoro (presidente)
Mauro Stumpf (vice-presidente de futebol)
Eduardo Preuss (diretor)
Chinho di Domenico (supervisor)
Nilson Folle Júnior (diretor)
Decio Burtet Filho (diretor)
Edir de Marco (diretor)
Ricardo Porto (diretor)
Mauro dal Bello (diretor)
Jandir Bordignon (diretor)
Dávi Barela Dávi (empresário)
Delfim Peixoto Filho (vice-presidente da CBF e presidente da Federação Catarinense)
Imprensa:
Victorino Chermont (repórter)
Rodrigo Santana Gonçalves (cinegrafista)
Deva Pascovich (narrador)
Lilacio Júnior (coordenador de transmissões)
Paulo Julio Clement (comentarista)
Mario Sergio Pontes de Paiva (ex-jogador e comentarista)
Guilherme Marques (repórter)
Ari de Araújo Júnior (cinegrafista)
Guilherme Laars (produtor)
Giovane Klein (repórter)
Bruno Mauro da Silva (técnico)
Djalma Araújo Neto (cinegrafista)
André Podiacki (repórter)
Laion Espindula (repórter)
Renan Agnolin (radialista)
Fernando Schardong (radialista)
Edson Ebeliny (radialista)
Gelson Galiotto (radialista)
Douglas Dorneles (radialista)
Jacir Biavatti (comentarista)
Tripulação:
Miguel Quiroga (piloto)
Ovar Goytia (piloto)
Sisy Arias (copiloto)
Romel Vacaflores (assistente de voo)
Alex Quispe (auxiliar de voo)
Gustavo Encina (representante da Lamia)
Angel Lug (técnico da aeronave)
Com informações Correio do Povo