Redefinição de perfis agiliza adoções em Chapecó e irmãos, enfim, têm novas famílias
13 de janeiro de 2022As pessoas que aguardam há mais de três anos pela adoção de crianças e adolescentes na comarca de Chapecó passam neste momento por uma reavaliação de perfil, segundo o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). Em conversas com a assistente social, os pretendentes atualizam as expectativas em relação ao novo filho. Os resultados já começam a aparecer. Dez crianças e adolescentes com idades entre 3 e 14 anos estão em processo de adoção a partir das redefinições. Destes, duas duplas e um trio são de irmãos. Aliás, a adoção de grupos de irmãos tem se tornado característica peculiar da comarca.
As conversas acontecem por videochamadas. A assistente social forense Katiane Centenaro conta que são necessárias várias ligações. São intervenções individuais e conjuntas com os casais. Aproximadamente 40 pretendentes foram atendidos, o que representa a metade do número a ser entrevistado. A ideia é fazer com que eles reflitam sobre o projeto adotivo. Com o trabalho, mais de 20 pretendentes desistiram da adoção. Alguns se separaram, outros tiveram filhos biológicos ou perceberam que o avanço da idade inviabiliza o atendimento adequado a uma criança.
Mas o principal resultado da reavaliação é a mudança de perfil. Muitos trocaram a longa espera por um recém-nascido – que dura, em média, oito anos – pela adoção tardia, que considera crianças maiores de três anos de idade, e admitiram a possibilidade de receber mais de um filho adotivo, o que fez com que fossem chamados mais rápido. “Percebemos que os pretendentes entenderam que estavam perdendo um tempo precioso com o filho que já poderia estar na família”, divide a servidora.
Katiane observa que não é de hoje que o perfil de quem busca um filho adotivo na comarca está ampliado. A possibilidade de receber em casa crianças maiores tem facilitado a aceitação de grupos de irmãos, o que não é comum e se tornou característica dos processos efetivados em Chapecó. Atualmente, há sete adoções em andamento que envolvem 10 crianças e adolescentes com idades entre três e 14 anos. Apenas três delas são individuais, as demais referem-se a duas duplas e um trio de irmãos. Duas dessas crianças têm problemas de saúde. Outro detalhe é que apenas uma delas é de Chapecó.
“O cadastro de adoção utilizado é o mesmo em todo o Brasil. O programa de computador cruza os perfis dos pretendentes com os perfis das crianças e adolescentes habilitados à adoção. O próprio sistema indica o pretendente compatível com o perfil da criança”, explica Katiane. A assistente social lembra que o desejo da maioria dos pretendentes ainda é por apenas uma criança, mas a maior necessidade são famílias para grupos de irmãos com no mínimo três crianças, muitas com menos de sete anos de idade. E essa realidade é percebida em todo o estado.
Pandemia
Outra situação observada no setor de Serviço Social da comarca de Chapecó é o aumento de pessoas que se disponibilizaram a adotar nos últimos dois anos. Em 2021, por exemplo, o número de pretendentes cadastrados foi três vezes superior ao registrado habitualmente, que é de 12 a 15 por ano.
“Durante a pandemia de Covid-19 registramos uma procura muito grande para habilitação. As pessoas se mostram sensibilizadas e acham que adotando vão ajudar uma criança”. No entanto, a comarca permanece com duas crianças aptas à adoção, de seis e nove anos de idade. Uma delas tem deficiência mental grave e a outra tem paralisia cerebral. Outras 60 crianças e adolescentes aguardam decisão judicial para saber se retornam para a casa de um familiar – o que é prioridade e acontece na maioria dos casos – ou se ficam habilitados à adoção. Hoje, há 137 pretendentes na fila.