Criança catarinense é vítima de racismo nas redes sociais: “Vi uma macaca se coçando”
21 de março de 2022Os pais da menina registraram um Boletim de Ocorrência (B.O) por injúria racial no último sábado (19).
Vestida como uma princesa da Disney, a última sexta-feira (18), deveria ter sido divertida para a família da pequena Lívia, de apenas sete anos. No entanto, não foi. Thaise Damiani, mãe da menina, denunciou nas redes sociais que a filha havia sido vítima de racismo em Criciúma, no Sul de Santa Catarina.
De acordo com Thaise, ela havia postado o vídeo da filha fantasiada de princesa do filme “A Bela e a Fera”, que ela iria para a festa da escola, quando recebeu uma mensagem de uma parente: “Desculpa aí, mas vi uma macaca se coçando”. Quando Damiami questiona: “Macaca?”, a autora teria apagado a mensagem em seguida e pedido desculpas alegando que o comentário seria para outro vídeo e não para publicado por Thaise.
Ainda segundo a mãe, a autora da fala nunca teve contato com a Lívia. “Ela nunca teve contato com minha filha e o meu contato com ela é apenas seguidora do Instagram, nada mais que isso”, conta.
O pai de Lívia, Fabrício Silvério Lucas, também publicou um desabafo no Instagram sobre o ocorrido. “Hoje foi minha filha, amanhã quem sabe pode ser sua filha, seu neto, até mesmo você”, disse pedido o apoio na luta pela igualdade.
Os pais da menina registraram um Boletim de Ocorrência (B.O) por injúria racial no último sábado (20) e o caso agora será investigado pela Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCami). A autora do comentário desativou a rede social.
Pesquisa aponta que racismo no transporte já foi presenciado por 72% dos brasileiros
Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 72% das pessoas dizem já ter presenciado situação de racismo em seu transporte do dia a dia e 39% foram vítimas do crime, ou seja, uma em cada três pessoas negras já sofreu preconceito em seus deslocamentos. Entre trabalhadores negros que atuam no setor, esse número é ainda maior: 65% dos entrevistados já enfrentaram alguma situação de racismo durante o expediente.
O estudo ouviu 1.200 pessoas e mais de mil profissionais do setor de transporte.
Quando questionados sobre situações de preconceito vividas, a população negra relatou ter sido menosprezada (24%), abordada de maneira desrespeitosa (17%), sofrido agressões verbais e ter sido alvo de expressões racistas (14%).
“Entre profissionais negros do transporte que enfrentaram situações de preconceito, embora as agressões verbais (47%) e o menosprezo (46%) tenham sido mais frequentes, eles foram três vezes mais alvo de expressões racistas e sofreram três vezes mais ameaça do que a população negra vítima de preconceito racial em geral”, diz o levantamento.
A pesquisa, divulgada hoje (21) no Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, foi encomendada pela Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) com o apoio da Uber, em parceria com o Instituto Identidade Brasil (ID_BR).
“Embora algumas pessoas possam ter a leitura de que ações como ‘ser menosprezada’ sejam atos imperceptíveis ou menos importantes, as microagressões são frequentes no cotidiano da população negra e afetam psicologicamente quem vive essa relação todos os dias. Por outro lado, imaginar que, ainda hoje, uma em cada quatro pessoas já sofreu violência física em consequência do racismo nos transportes públicos só reforça a noção de que a adoção de ações de combate ao racismo se fazem cada vez mais urgentes e necessárias.” afirmou, em nota, a especialista em Diversidade e Inclusão do ID_BR, Roberta Calixto.
O estudo mostra ainda que 71% das pessoas negras que trabalham no trânsito sentem medo de sofrer racismo ou preconceito por sua cor. Entre a população negra em geral, esse número cai para 41%, o que mostra que quem está na rua por mais tempo sente mais medo de sofrer esse tipo de discriminação.
Os números também revelam que motoristas de ônibus e cobradores são os profissionais que mais observam casos de racismo no seu trabalho (75%), seguidos de motoristas de aplicativo (73%) e taxistas (65%).
Segundo a pesquisa, o número de casos acaba causando impacto no comportamento das pessoas negras ao planejar seu deslocamento: 29% dos negros declararam que já mudaram a forma de se locomover pela cidade devido a situações de preconceito ou discriminação. Entre mulheres negras, o número chega a 31%. As mulheres negras também são as que mais se sentem vulneráveis nos deslocamentos: 72% delas temem sofrer algum tipo de assédio sexual, 64% agressão física e 47% sofrer algum tipo de racismo.
A pesquisa também incluiu duas imagens para comparar a percepção dos profissionais de transporte sobre as diferenças entre um homem negro e um branco: seis em cada dez profissionais acreditam que uma pessoa negra tem mais chance de causar medo nos passageiros que uma pessoa branca. A chance de motoristas não pararem no embarque para um passageiro negro também é bem maior (61% contra 7%).
Para a maioria da população (69%), o racismo é comum no dia a dia e 25% consideram que as pessoas que cometem racismo nunca são devidamente punidas. Entre profissionais de transporte, essa crença na inadequação da punição vai a 38%. Com isso, entre profissionais que foram vítimas de racismo, apenas 17% já realizaram algum tipo de denúncia, seja para a empresa ou para a polícia.
Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, os resultados da pesquisa mostram o quanto o racismo acaba prejudicando a mobilidade dos brasileiros pela cor da sua pele. “É como se o direito de ir e vir fosse prejudicado de acordo com a cor da pele do passageiro. E essa limitação faz com que as oportunidades que as pessoas têm, seja no mercado de trabalho, no acesso à educação e no lazer, se tornem reduzidas”, disse Meirelles.
Com informações Agência Brasil