‘É do game.’ Victor Ramos teve conversa tensa com intermediário de esquema de apostas e cobrou pagamento: ‘Quero meu dinheiro’
10 de maio de 2023Em prints de WhatsApp revelados na “Operação Penalidade Máxima 2”, do MP-GO (Ministério Público do Estado de Goiás), o zagueiro Victor Ramos, atualmente na Chapecoense, tem uma conversa tensa com um intermediário do esquema de apostas esportivas que também é investigado no processo.
Nas conversas, um grupo formado pelos criminosos discute a opção de entrar em contato para ver se o defensor toparia entrar no esquema e recebe a aprovação, já que ele seria “do game” – ou seja, que aceitaria a proposta.
“Ele falou: ‘É a primeira de muitas’. Falou: ‘Cem conto [R$ 100 mil] ele pega, entendeu?’. Cem conto ele pega e é isso, metade antes, metade depois. E a única coisa que você falou é o seguinte: ‘O último jogo o técnico caiu, está ligado? […] Espere para ver como vai ser o treino hoje e tal, né?’. Querendo ou não, ele é titular, capitão. É só para ver se o técnico não vai fazer loucura. Amanhã, na quarta-feira, já te dou certeza […] Mas já deu para ver que o Victor Ramos é do game, entendeu? Aí amanhã provavelmente vou encontrar pessoalmente com esse assessor, brother dele aí”, diz um intermediário, em áudio divulgado na denúncia.
A investigação aponta que o intermediário Pedro Gama dos Santos Jr. prometeu R$ 100 mil a Victor Ramos, então atleta da Portuguesa, para que ele cometesse um pênalti na partida contra o Guarani, pelo Campeonato Paulista 2023.
De acordo com o MP-GO, o zagueiro aceitou, mas as apostas não foram registradas, devido a “dificuldades encontradas pelos denunciados em realizarem outras apostas combinadas na mesma rodada”.
Na sequência, a denúncia apresenta os prints de WhatsApp em que Victor Ramos cobra Pedro Gama de forma veemente por pagamentos.
As imagens foram obtidas após a apreensão do celular do jogador, que ocorreu em abril.
Procurado pela reportagem, o empresário do atleta, Lucas Reis, manifestou-se da seguinte forma: “Estamos aguardando”.
Veja a transcrição das conversas de Victor Ramos:
Victor Ramos: Bom dia, Pedro. Veja o meu dinheiro aí, por favor.
Pedro Gama: Bom dia.
Victor Ramos: Veja meu dinheiro aí. Me ajude aí, cara. Na boa, mesmo. Segunda-feira, pô. E hoje é quarta já.
Pedro Gama: Irmão, vou ajeitar.
Victor Ramos: Veja aí, por favor. Você recebeu, era para me passar. Daí gastou, né? Na boa, Pedro. Só pode estar de p*** comigo. Toda vez é isso. Quero meu dinheiro hoje. Toda vez pega o dinheiro dos outros.
Pedro Gama: Eu não peguei dinheiro sei. Eu que fiz o esquema para você ganhar. Você vai receber agora. Não venha com essa ameaça também não.
Victor Ramos: Só quero que você faça meu PIX aí. Estou precisando somente.
[Algumas horas passam]
Victor Ramos: Pedro, fez o dinheiro aí?
Pedro Gama: [Envia áudio]
Victor Ramos: OK, estou esperando.
Agora veja o vídeo:
Em nota a Chapecoense, atual clube do jogador se pronunciou:
Diante das denúncias referentes à Operação Penalidade Máxima II – que tem, entre os indiciados, um atleta que, atualmente, defende a Associação Chapecoense de Futebol – a instituição vem a público a fim de reforçar a sua concordância e respeito às investigações que estão sendo realizadas pelo MP-GO, pelo GAECO e pela Promotoria de Combate ao Crime Organizado.
Contudo, o clube aguarda, efetivamente, o julgamento do órgão competente. A partir de então, a agremiação tomará as medidas necessárias – sempre prezando pela defesa dos princípios éticos.
Vale lembrar que, na última terça-feira (9), a Justiça de Goiás acatou a denúncia feita pelo MP contra os 16 investigados na “Operação Penalidade Máxima 2”. Com isso, Victor Ramos se tornou réu na ação, ao lado de outros seis atletas e nove apostadores que comandam a organização criminosa. Os réus vão a julgamento após o processo de instrução feito pelo juiz.
Entre a última terça e esta quarta-feira (10), diversos jogadores também foram afastados por seus clubes, como Eduardo Bauermann (Santos), Vítor Mendes (Fluminense), Richard (Cruzeiro), Fernando Neto (São Bernardo) e Pedrinho (Athletico-PR).
Veja abaixo quais são os jogos que estão sob investigação na Série A
Palmeiras x Juventude
Juventude x Fortaleza
Goiás x Juventude
Ceará x Cuiabá
Red Bull Bragantino x América-MG
Santos x Avaí
Botafogo x Santos
Palmeiras x Cuiabá
Quais jogadores estão sendo investigados?
Eduardo Bauermann (Santos)
Gabriel Tota (Ypiranga-RS)
Victor Ramos (Chapecoense)
Igor Cariús (Sport)
Paulo Miranda (Náutico)
Fernando Neto (São Bernardo)
Matheus Gomes (Sergipe)
Quais jogadores também foram citados no processo?
Vitor Mendes (Fluminense)
Richard (Cruzeiro)
Nino Paraíba (América-MG)
Dadá Belmonte (América-MG)
Kevin Lomonaco (Red Bull Bragantino)
Moraes Jr. (Juventude)
Nikolas Farias (Novo Hamburgo)
Jarro Pedroso (Inter de Santa Maria)
Nathan (Grêmio)
Pedrinho (Athletico-PR)
Apostadores e membros da organização:
Bruno Lopez de Moura
Ícaro Fernando Calixto dos Santos
Luís Felipe Rodrigues de Castro
Victor Yamasaki Fernandes
Zildo Peixoto Neto
Thiago Chambó Andrade
Romário Hugo dos Santos
William de Oliveira Souza
Pedro Gama dos Santos Júnior
O que a “Operação Penalidade Máxima” investiga
A investigação da “Operação Penalidade Máxima” aponta que grupos criminosos convenciam jogadores, com propostas que iam até R$ 100 mil, a cometerem lances específicos em partidas e causassem o lucro de apostadores em sites do ramo.
Um jogador cooptado, por exemplo, teria a “função” de cometer um pênalti, receber um cartão ou até mesmo colaborar para a construção do resultado da partida – normalmente uma derrota de sua equipe.
As primeiras denúncias ouvidas pela operação surgiram no fim de 2022, quando o volante Romário, então jogador do Vila Nova (GO), aceitou R$ 150 mil para cometer um pênalti contra o Sport, em partida válida pela Série B do Brasileiro.
Na ocasião, o atleta embolsou R$ 10 mil imediatamente e só ganharia o restante caso o plano funcionasse. Romário, porém, sequer foi relacionado para a partida, o que estragou a ideia.
A história chegou até Hugo Jorge Bravo, presidente do time goiano e também policial militar, que buscou provas e as entregou ao Ministério Público do estado. A partir daí, criou-se a operação “Penalidade Máxima” para investigar provas e suspeitas sobre o assunto.
Na primeira denúncia, havia a suspeita de manipulação em três jogos da Série B, mas os últimos acontecimentos levaram os investigadores a crer que o problema era de âmbito nacional e havia acontecido em campeonatos estaduais e também na primeira divisão do Brasileiro.
Além de Romário, outros sete jogadores foram denunciados pelo Ministério Público por participarem do esquema de fabricação de resultados: Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã) e Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR).
Algum jogador de futebol foi preso?
Nenhum jogador preso, só pessoas envolvidas nos pedidos de manipulação. Foram três mandados de prisão em São Paulo, mas só para não atletas.
Foram apreendidas granadas de efeito moral em um mandado de prisão em São Paulo a armas de fogo em outro endereço, também em terras paulistas. Nesse local, houve também um flagrante de armas de fogo sem o devido registro.
Os atletas ou aliciadores podem ser indiciados via Estatuto do Torcedor e também podem responder por crime por lavagem de dinheiro, se for o caso. Segundo o Estatuto do Torcedor, a pena varia de 2 a 6 anos de prisão.
O que os jogadores faziam para manipular as partidas?
Os atletas e envolvidos suspeitos estão sendo investigados por manipulação da seguinte forma: receber cartões amarelo ou vermelho, cometer um pênalti, garantir uma derrota parcial no 1º tempo, número de escanteios, etc.
Com informações ESPN