Casos do Jogo da Baleia Azul são registrados na Delegacia de Xanxerê
4 de maio de 2017Uma das vítimas já tinha até escrito a carta de despedida para a família
O jogo da Baleia Azul, que lança 50 desafios que o participante deve seguir até chegar ao suicídio, está deixando os pais mais atentos ao comportamento dos filhos. Prova disso foram dois pais – um de Ipuaçu e outro de Xanxerê – que, percebendo lesões no corpo de suas filhas, procuraram a polícia para denunciar o fato e buscar ajuda psicológica para as adolescentes. Os dois casos foram registrados na Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCAMI) de Xanxerê.
De acordo com o delegado responsável pela DPCAMI, Icaro Freitas Malveira, já foram instaurados inquéritos policiais e a investigação ainda está na fase inicial. As vítimas e seus responsáveis foram ouvidos e recolhidas as mensagens encaminhadas pelos mentores do jogo para as adolescentes por meio do WhatsApp.
– Ambos os casos chegaram ao nosso conhecimento através de familiares, sendo que em um caso foi o pai que trouxe a filha e, no outro, foi a mãe. Encaminhamos as duas vítimas para exames de corpo delito porque elas já estavam em uma fase relativamente avançada e já possuíam escoriações pelo corpo. Assim que os laudos do IGP chegarem, vamos passar para a fase de descobrir quem são os autores desse delito, que é a parte mais difícil nesses casos porque, normalmente, eles são de outros estados – explica o delegado.
De acordo com Icaro, foi identificado que o “mentor” do jogo de um dos casos é a da região Centro-Oeste do Brasil e uma das adolescentes já havia até escrito a carta de despedida, um dos últimos passos do desafio. Em função do crescimento do número de casos em Santa Catarina, a Delegacia Geral do Estado está coletando dados das 30 regiões do Estado para realizar um combate mais efetivo do crime.
– Assim, esse infrator pode responder por vários delitos, como participação, induzimento, auxílio e instigação ao suicídio no caso de a vítima ficar com a lesão corporal de natureza grave ou vir a óbito. Além disso, pode até responder por homicídio se tiver relação direta coma vítima, mas tudo sempre vai depender da investigação e de verificar se a vítima tinha condições ou não de entender o que estava fazendo, para saber se foi influenciada ao ponto de cometer as mutilações – afirma.
A intenção do delegado é de que, até o fim desse mês, se concluam os procedimentos desses dois casos. Porém, ele destaca que a vigilância dos pais em relação às redes sociais e ao comportamento dos filhos é fundamental para evitar que o jogo chegue até as últimas consequências.
– Se os pais ficarem atentos ao que os filhos estão acessando, com quem eles estão se comunicando, é possível evitar um mal maior. Agora essas adolescentes estão recebendo acompanhamento psicológico aqui na DPCAMI e também da universidade aqui do município. Então se os pais perceberem qualquer anormalidade, devem procurar a delegacia e registrar a ocorrência para que a polícia possa tomar conhecimento do caso e investigar – finaliza.
Profissional acompanha os casos
A psicóloga Márcia Regina Tosatti Simon acompanha os casos das adolescentes vítimas do jogo Baleia Azul. Em entrevista a RICTV Record, a profissional relata um dos fatos em que a denúncia chegou até seu conhecimento depois que uma pessoa a procurou. A partir disso, a mãe da adolescente foi contatada e informou que a filha havia contado o que tinha acontecido.
– Através de uma denúncia na unidade de saúde, que recebemos na terça-feira, dia 11 de abril, da preocupação de uma pessoa que soube do caso. A partir disso resolvemos entrar em contato com a mãe da adolescente, prontamente ela foi à unidade de saúde e nos relatou que, naquela noite, a filha tinha lhe contado que era uma vítima desse jogo – relatou a psicóloga.
Segundo ela, a menina estava em pânico porque o mentor do jogo a estava manipulando muito e fazendo torturas psicológicas e ela já estava na terceira ou quarta fase, que seria de desenhar a baleia no antebraço.
– Quando a gente trouxe ela até na delegacia, a gente explicou a ela que esse curador não tem acesso a ela, que ele está muito longe, que a intenção dele é tirar a vida dela e que ele estaria fazendo de tudo para que isso acontecesse. Eles têm um poder de persuasão muito grande sobre o adolescente. Têm acesso à vida do adolescente através da página no Facebook ou das redes sociais, ele tem acesso a todas as informações, porque o adolescente é inocente e lá ele posta tudo sobre a sua vida, inclusive esse curador conseguiu o telefone dessa adolescente na página do Facebook dela e foi ali que ele entrou em contato com a vítima – explicou Márcia.
Márcia orienta que todos evitem postar informações íntimas da família nas redes sociais como telefone, nome das pessoas que residem na casa, endereço, etc.
– Que os pais tenham uma atitude de amor com seus filhos e procurem ter conhecimento sobre esse jogo e dialoguem com seus filhos, mostrando o perigo disso. E também verifiquem os horários que seus filhos estão entrando na internet – concluiu.
Com colaboração de Carol Debiasi
Fonte: TUDOSOBREXANXERE