Bolsonaro subiu o tom dos ataques a Lula e ao STF no ato em SP

Bolsonaro subiu o tom dos ataques a Lula e ao STF no ato em SP

7 de abril de 2025 Off Por Editor



  • Ex-presidente defendeu a anistia aos que participaram dos atos de 8 de janeiro de 2023

    O discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi mais forte na Avenida Paulista, ontem domingo (06), do que, no dia 16 de março, quando falou aos presentes ao ato idêntico em Copacabana, no Rio de Janeiro. Havia um foco muito mais definido contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem Bolsonaro culpou pelo “verdadeiro golpe”, o de ter chegado ao Palácio do Planalto, em 2022. Talvez, a divulgação de uma pesquisa pelo Datafolha, horas antes do ato, em que Lula venceria em todos os cenários no segundo turno de 2026, motivaram o aumento do tom, depois que, na última segunda-feira, o Instituto Genial/Quaest havia apresentado um cenário mais desfavorável ao inquilino do Palácio do Planalto. Evidentemente que Bolsonaro e seus apoiadores, que se revezaram nas declarações, não pouparam críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A configuração era diferente do evento no Rio de Janeiro e os políticos, incluindo parlamentares e sete governadores de Estado, estavam em um palco pequeno paralelo, igualmente montado sobre um trio elétrico, em uma estrutura um pouco mais baixa e larga. A todo momento, os oradores seguiram um roteiro, que negava a existência de golpe, ora investigado, e lembrava que um vendedor de pipoca gourmet, Carlos Eifler, de 54 anos; e um sorveteiro, Otoniel da Cruz, de 45 anos, estão entre os presos pelo STF, sem citar que a investigação foi feita pela Polícia Federal e a denúncia contra eles é da Procuradoria Geral da República. Os assessores poderiam ter evitado que o ex-presidente tenha tentado citar em inglês este fato, que virou motivo de meme na internet: “Popcorn and ice cream sellers sentenced for coup attempt in Brazil!”, disse Bolsonaro com pronúncia sofrível e desnecessária, pois o ex-presidente, antes de se manifestar, havia dito que não era versado no idioma. Além de Lula e Moraes, a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que escreveu com batom a frase “perdeu, mané” na estátua à frente do STF, e que agora cumpre prisão domiciliar por determinação do ministro Alexandre de Moraes, a pedido da PGR, foi a mais citada. Símbolo do argumento de que o que cometeu não valeria uma pena de 14 anos e o pagamento de uma multa de R$ 50 mil, mais uma indenização de R$ 30 milhões, Débora materializou a ideia de que gente comum estava entre os que vandalizaram os prédios na Praça dos Três Poderes e não pretendiam dar um golpe de Estado. “Só um psicopata vê golpe de Estado no 8 de janeiro”, sentenciou Bolsonaro.

    Jair Renan estava presente ao lado dos irmãos

    Em determinada parte do evento na Avenida Paulista, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que discursava, chamou “os meninos do Bolsonaro” ao se referir aos filhos do ex-presidente em outros dois casamentos. Subiram ao palco principal do trio elétrico, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os vereadores Carlos Bolsonaro (PL), do Rio de Janeiro, e Jair Renan (PL), de Balneário Camboriú. Michelle reuniu os três, que se abraçaram com o pai, para lembrar a ausência do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tomou a iniciativa de se mudar para os Estados Unidos. Duda, como foi chamado por Michelle, decidiu fazer uma cruzada para, de acordo com o parlamentar, relatar a perseguição ao pai e a existência de “uma ditadura no Brasil”. Jair Renan, que esteve todo tempo atento ao discurso do pai, recebeu uma péssima notícia, no fim do mês passado: a 5ª Vara Criminal de Brasília, no Distrito Federal, aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público contra ele. O filho do ex-presidente e um sócio foram investigados por supostamente utilizar um documento com informações falsas de sua empresa de eventos para obter um empréstimo bancário que não foi pago.

    O que diz a defesa de Jair Renan

    A defesa do vereador em Balneário Camboriú afirma que “Jair Renan foi vítima de um golpe montado por pessoa, que apenas depois se soube ser conhecida pela polícia e pela Justiça”. A defesa também informou que apresentará “provas e fundamentos” para esclarecer que Jair Renan foi vítima de um golpe. “Tudo ficará esclarecido no curso do processo, no qual a defesa poderá apresentar provas e fundamentos para o total esclarecimento do golpe contra ele aplicado”, complementou o advogado.

    Número de participantes gera nova polêmica

    Inicialmente decidido a não divulgar levantamentos, o Monitor do Debate Político no Meio Digital do Cebrap e da ONG More in Common, sob a coordenação de especialistas da Universidade de São Paulo (USP), divulgaram a estimativa de que havia 44,9 mil pessoas, no ato. Segundo eles, a margem de erro é de 5,4 mil pessoas, para mais ou para menos. Já o site Poder 360 valeu-se de fotos de alta resolução do local para determinar que o número de participantes era de 55,9 mil pessoas. Foi o cálculo a que chegou a partir do registro aéreo no momento do discurso de Bolsonaro, que durou 26 minutos. Os números são modestos se considerada a estimativa dos organizadores do ato, aliados de Bolsonaro, convocados pelo ex-presidente e pelo pastor Silas Malafaia, que cravam a presença de 400 mil. De qualquer maneira, a presença foi maior do que a no Rio de Janeiro, há 20 dias, estimada em pouco mais de 18 mil, mas abaixo das estimativas iniciais. Opositores de Bolsonaro trataram de espalhar imagens de ônibus de turismo estacionados nas proximidades da Avenida Paulista para dizer que houve uma mobilização nacional, mas que “o ato flopou”, anglicismo que significa fracassou em português. Também sugerem que a mobilização foi baseada em uma contribuição financeira, algo negado pelos organizadores.